U Fabuliô de Hugo Possolo > matérias



Folha de São Paulo - Ilustrada
30 de agosto de 1996





"Um homem viajou e, enquanto ele estava fora, sua mulher transou com o padre da cidade. Moral da história: não viaje sem sua mulher".

Essa é a sinopse de um dos "fabliaux", contos franceses dos séculos 13 e 14 usados por Hugo Possolo, do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões, para fazer a peça "U Fabuliô", que estréia hoje, às 21h, no Sesc Pompéia, no 6º Fiac.

"U Fabuliô" é a história de um mascate que vai vender a banha da Jurumba na cidade grande e encontra loucos. Reunidos, eles contam como ficaram loucos.

Quirino, o personagem de Raul Barreto, acredita que é um burro e por isso acaba se tornando um. Deodata, papel de Carla Candiotto, acha que vai se tornar uma vaca mocha porque o marido a traiu e, por isso, resolve transar com o padre para quebrar o feitiço. Darlene (Carmo Murano) só se coça, e João Dimas (Possolo) é um idiota que se acha muito esperto.

Com esses personagens, Possolo amarrou as situações dos contos, sem, no entanto, expor o tempo todo a moral das histórias. "Transformei a mensagem moralista em uma farsa", disse.

A origem

No começo do ano, Possolo leu os contos e teve a idéia de reunir as histórias soltas em uma peça. "Os 'fabliaux' eram histórias que sobreviveram graças à tradição oral e que serviram de fonte para Moliére e Shakespeare", disse ele, que transferiu o cenário europeu para a praça da Sé. "Só que com sotaque nordestino, com a história de um mascate".

Além disso, os Parlapatões trabalham com o arquétipo do circo. "O palhaço existe no mundo inteiro. Da Rússia à África aos Estado Unidos. Nós fazemos a nossa versão brasileira do arquétipo".

A idéia é fazer um texto abrangente para um público de qualquer idade e classe social. "Shakespeare não tinha seletividade. Ele fazia o folhetim da época com uma profundidade humanística", disse Possolo. "Ele contava a fofoca do momento para quem era da corte ou de fora dela", afirmou Roit.

A idéia inicial era apresentar o espetáculo na praça da Sé. Mas o Fiac fechou a apresentação no Centro de Convivência, que é um espaço mais aberto do Sesc. "Mas, depois de apresentarmos a peça na rua, a turnê que faremos pelo interior, ainda vamos apresentar "U Fabuliô" na Sé", promete Possolo.



Daniela Rocha
Da Reportagem Local